domingo, 15 de novembro de 2009

Revolução sem limites

A palavra-chave para definir a revolução da chamada Web 2.0 é o protagonismo dos internautas. De receptores passaram a produtores de conteúdo. E isso fascina. Nas mais diversas conceituações elaboradas tanto na Academia como no empirismo dos novos navegantes está lá esse encantamento: "Melhor experiência do usuário" e"Valorização do conteúdo colaborativo e da inteligência coletiva", para citar dois valores.

No primeiro, o mix de tecnologias surgidas no final da década de 1990, com o aumento de velocidade, é elencado como responsável pela massificação da edição e pela edição colaborabiva - caso dos blogs e wikis, por exemplo. No segundo, a ideia de que o público produz e consome, de modo simples e direto. Noutros termos, morre a Internet simulacro do papel, na qual a diferença em relação ao jornais impressos - para cingir o debate ao campo - é apenas na plataforma.

PAPEL, CANETA E TINTEIRO
Nesse novo modelo, ganham importância atributos como a simplicidade no acesso, a agilidade no deslocamento e na consulta de conteúdos. Tudo em nome do neo-protagonista: o internauta.
Ocorre, porém, que este protagonismo, ao tempo em que é legitimado e festejado, traz consigo os riscos inerentes ao poder. Aliás, muito poder. Os principais veículos jornalísticos tornaram uma profissão de fé (com boa fé) abrir portas e entregar blocos em branco, canetas e tinteiros a seus visitantes.

À SOMBRA DOS PSEUDÔNIMOS
Páginas abertas e liberdade para opinarem. Qualquer um pode entrar numa página eletrônica de jornal e escrever sobre o que quiser. Vale tudo nessa ditadura da liberdade incondicional. E, por tudo, incluam-se os ataques indiscriminados e as críticas protegidas pela sombra dos pseudônimos.

A experiência mostra que o territorio é mais minado nas editorias onde a opinião envolve paixões mais violentas: Política e Esportes. Refiro-me de modo particular à observações sobre o jornal no qual trabalho, O POVO, de Fortaleza (CE), mas, decerto, o mesmo se dá noutros tantos veículos doutros estados.

DOIS CAMPOS MINADOS
Em tempos de eleições ou decisões esportivas, quando os nervos entram em ebulição, os espaços para a participação do público se inflamam no mesmo termômetro. Os alvos nem sempre são as opinião adversas, mas as personagens (políticos, atletas, dirgentes ou jornalistas), num jogo perigoso e praticado com desonestidade.

E o que significa esta "invasão" de opiniões e virulência? Uma hipótese para esta atitude aguerrida dos leitores-internautas pode estar numa carência. De jornais francamente engajados nos anos 1950, cujas manchetes traziam cunho panfletário, nossa imprensa evoluiu para um tom aparentemente neutro, no mais das vezes, como diz Franklin Martins em "Jornalismo Politico" (Editora Contexto).

EU QUERO MINHA CATARSE!
As preferências há, contudo, a despeito de recorrências panfletárias (especialmente nas revistas) busca-se um texto interpretativo para um leitor mais exigente e plural. Ao extravasar sentimentos pela Web estaria o público buscando a catarse da qual a imprensa lhe privou.
A questão não se encerra aqui. Um desafio posto na tela dos veiculos é encontrar um bom termo entre uma tribuna livre e irrevogável dos novos tempos da Internet e o devido rigor na gestão do que serve no cardápio. Não basta lavar as mãos.
 
 

2 comentários:

  1. Caro Jocélio,
    É um prazer estar em contato com você e poder conversar via blog, através dos comentários. Esta é talvez a grande vantagem deste tipo de interatividade entre autor e leitor,como você mencionou no teu post, com toda propriedade. Em vez de ver a relação entre leitor e jornalista como um confronto, embora ela frequentemente assuma este formato, eu prefiro vê-la como uma conversa, onde a troca é o fator preponderante.
    Nesta nova relação entre leitor e jornalista devemos tentar separar o que é estrutural e o que é conjuntural. Tudo indica que a produção de informações tende a ser um processo colaborativo, dada a necessidade de incorporar cada vez mais percepções diferenciadas de um mesmo fato, dato ou processo na geração de informações e conhecimentos. Assim, a participação do leitor tende a ser algo permanente e progressivo. Como este processo está apenas começando, é claro que ainda existe uma enorme tendência à catarse. Daí as agressões, xingamentos etc. Mas os jornalistas necessitam ver este fenomeno num contexto transitório. Hoje, acredito que a questão da interatividade com o público é o grande dilema dos jornalistas.
    Um abraço
    Castilho

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  2. Jocelio, gostei do conteúdo do seu texto e da forma como escreveu, com varios subtitulos. Condordo também com as suas opinioes a respeito do tema e espero que possamos conversar mais hoje no chat. Ate la!

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